Thursday, April 12, 2007

O Massacre das Adelaides



Sim, é verdade. Fui eu quem disparou aquelas rajadas de metralhadora sobre a multidão. Mas disparei para o ar. Por isso mesmo atingi tão poucas pessoas. E quase nenhuma mortalmente (eu sei o que faço!).
É verdade que estava um pouco enervado. Mas como podia adivinhar que aquela turba em frente da minha moradia estava ali a demonstrar-me o seu apoio. Ruidosamente! E ainda por cima pisaram os canteiros do jardim.
Naturalmente que não aprovo a justiça popular a não ser quando ela é executada por militares. Mas, precisamente, esse era o meu caso. Por infelicidade, toda a história foi demasiado empolada pelos jornais e pela oposição (sempre eles), e corre-se o risco de perder de vista aquilo que é verdadeiramente importante: o sucesso da minha campanha a favor da re-introdução da pena de morte no Império Português.
Pena de morte, e a tiro! Nos casos de violação de crianças. De esquizofrenia assassina. De apedrejamento de violadores. De assassinato de esquizofrénicos. De assassinos de apedrejadores. De esquizofrénicos de violadores. De crianças. De pais de crianças. De estrangeiros. De mendigos. De paraplégicos. De polícias. De militares. De gatos. De focas. Da camada de ozono. De eleições. Da nova ordem mundial. Dos jornais e da rádio. Dos bachareis. Mas sempre tudo estudado criteriosamente, caso a caso!

1 comment:

  1. Boa revolta boa, justa e necessária. Vim até aqui por meio de um amigo comum, o nosso indispensável Michael Kegler. Aguardo a sua visita em meu blog de literatura e jornalismo,
    http://urarianoms.blog.uol.com.br/
    Abraço de Olinda, Brasil.

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